O software que mandou pessoas para a prisão injustamente
Quando um bug faz mais estragos do que se pode imaginar
Sempre que analiso friamente um software eu penso naquela frase clássica (e triste):
“Se construtores(as) de edifícios construíssem seus prédios como os programadores(as) escrevem seus programas, o primeiro pica-pau que viesse poderia destruir uma civilização”
A história absurda da vez envolve um software chamado de “Horizon”, que é utilizado há 20 anos pelo UK Post Office.
O UK Post Office é mais do que um “Correios”:
O Post Office tem mais de 11.500 agências em todo o Reino Unido. 99,7% da população vive a até 5 km de uma agência dos correios e 93% vive a menos de 2 km. Junto com um negócio online significativo, somos a maior rede de varejo no Reino Unido, com mais agências do que todos os bancos e sociedades de construção juntos.
Os serviços do Post Office incluem serviços financeiros, seguros, empréstimos, crédito, entre outras coisas.
Com o contexto dado, podemos ir para a história.
Em resumo, funcionários dos Correios do Reino Unido lidam com um software que tinha uma falha tensa: bugs que faziam parecer que os funcionários roubaram dezenas de milhares de libras esterlinas.
Isso fez com que algumas pessoas fossem condenados por crimes, e até mesmo mandadas para a prisão, porque o Post Office insistia obstinadamente que o software era confiável.
Depois de décadas de luta, 39 pessoas estão finalmente tendo suas condenações anuladas, depois do que é supostamente o maior erro judiciário que o Reino Unido já viu.
O software foi desenvolvido pela empresa japonesa Fujitsu, e suas informações foram usadas para processar 736 funcionários entre 2000 e 2014, alguns dos quais acabaram indo para a prisão.
Bugs no sistema faziam com que o software reportasse que faltava dinheiro em contas sob o controle de funcionários.
Alguns funcionários chegaram a tentar cobrir a falta de dinheiro reportada usando seu próprio dinheiro.
De acordo com a BBC, uma mulher, que jurou ser inocente, foi enviada para a prisão por roubo enquanto estava grávida. Um homem morreu supostamente por suicídio depois que o sistema mostrou que ele havia perdido quase £ 100.000.
A BBC produziu uma série incrível em forma de podcast onde o escândalo é detalhado por Nick Wallis em sua investigação de mais de uma década.
Nick também escreveu um livro sobre o caso.
Isso nos faz pensar naquele teste unitário que deixamos de fazer na última, não é mesmo?
Saiba mais
Matéria original no The Verge: https://www.theverge.com/2021/4/23/22399721/uk-post-office-software-bug-criminal-convictions-overturned
Série em áudio na BCC: https://www.bbc.co.uk/programmes/m000jf7j
Livro The Great Post Office Scandal: https://bathpublishing.com/products/the-great-post-office-scandal-first
Perfil de Nick Wallis no Twitter: https://twitter.com/nickwallis
Eu penso que o maior erro foi da parte contábil da empresa, por que não perceber que esses valores supostamente roubados na verdade ainda estavam no caixa da empresa, ou até realmente teve alguém que retirou esse dinheiro do caixa se aproveitando do bug.
Você não pode culpar programadores por isso. Todo produto desenvolvido passa por um processo de homologação, para ser aprovado e usado, e após isso ainda passar por acompanhamento por um período. A empresa deveria ter notado que havia algo errado quando o número de casos de "roubo" se tornou grande ou absurdo, como o caso da funcionária grávida.
Sim, programadores erram, mas quem não reporta o bug também erra.