Retrospectiva 2019: Eu, BrazilJS e a Microsoft
Um relato pessoal e importante sobre o Microsoft Ignite 2019.
A década passou e eu me atrasei na retrospectiva. Porém, ainda que atrasada, os fatos que relato nesse texto repercutem e ainda reverberam na minha mente..principalmente no meu coração.
O ano é 2019 e venho fazer um relato muito pessoal do mais marcante acontecimento da minha carreira profissional - e porque não - da vida pessoal também. Há várias entrelinhas aqui que vão ficar faltando, mas quem me acompanha há algum tempo vai compreender o contexto.
Bom, inicio o ano passado assumindo o grande desafio de entrar no time da BrazilJS. Dispenso o detalhamento do que isso significa mais profundamente, porque é reconhecido o trabalho de 10 anos dessa “instituição” que tem o objetivo de fomentar a comunidade de forma verdadeira e independente.
Para mim, ser Community Manager do evento mais querido e diverso do Brasil era uma baita responsabilidade! Não que fosse uma grande novidade a participação em comunidades, pois há mais de 10 anos o fazia, ainda que de forma incógnita. Porém, com uma aproximação e dedicação mais incisiva nos últimos 4 anos. Nestes, ingressei na comunidade Pyladies Porto Alegre, apoiei a organização de vários eventos, entre eles o Django Girls Porto Alegre de 2017 com mais de 400 inscrições (um recorde). Também participei ativamente do Tecnotalks com eventos diversos ligados ou não diretamente a área de desenvolvimento. Participei da fundação da primeira comunidade de tecnologia voltada para pessoas negras do Brasil, o AfroPython. Fui responsável pela criação e curadoria do Lounge de Diversidade do The Developers Conference (TDC). Palestrei em mais de 20 eventos diferentes, tanto sobre diversidade quanto sobre tech recruiting no qual tenho mais de 15 anos de experiência.
Foram dias e eventos incríveis, entre eles destaco a Python Brasil e o RSJS , ambos em 2018.
Em 2019 fui uma ativista mais crítica e consciente sobre Diversidade em Tecnologia e canalizei minha energia toda para essa pauta. Dito isso, todos os eventos e conteúdo da BrazilJS foram direcionados para esse olhar de forma mais enfática também. Ainda em 2019, fundei a comunidade AfrotechBR cujo objetivo era dar visibilidade e perspectiva para profissionais negros de nível sênior da área de tecnologia. Um gap sem dúvida, que o mercado e a sociedade ainda não estavam preparados para enfrentar.
Todo esse contexto anterior é para falar sobre o que viria ao apagar das luzes da última década: Agosto de 2019, mês da BrazilJS Conf, trabalho de mais de 9 meses de produção. Me debrucei sobre esse projeto em que sempre quis participar, mas nunca pensei que fosse para mim. No ano anterior fui como participante de empresa patrocinadora , numa estratégia de employer branding. Mas dessa vez estava eu no palco e nos bastidores buscando diversidade apaixonadamente, por propósito de vida.
E este evento sem dúvida foi um marco no Brasil. Levamos a periferia e a negritude para o palco em posição de protagonistas para que eles mesmos contassem suas histórias. Neste caso a narrativa faz toda diferença. Fizemos em paralelo uma conferência feita por, para e com pessoas negras, o Afrotechbr International Meeting. Engajamos e envolvemos uma grande quantidade de comunidades de pessoas sub representadas em tecnologia, como LGBTQ, mulheres, pessoas negras. Tivemos pela primeira vez na história da BrazilJS a presença de intérprete de libras. Exaltamos diversidade, cultura e ciência num país absolutamente dividido e plural, que insistia em negar sua existência.
Foi exaustivo! Foi avassalador. Foi impressionante. Foi espetacular e inesquecível. Essas são as palavras mais próximas para descrever o que foi a construção da jornada de diversidade da BrazilJS 2019. Depois de tanto, eu só queria descansar um pouco para recuperar as energias e partir para os desafios seguintes: ainda faltavam 3 eventos On The Road para fechar o ano.
Como a vida é um eterno plantar e colher...eis que recebo um email que faz , como dizemos por aqui, o coração “errar as batidas”. E foi exatamente assim: eu li e dei um pulo da cadeira:
“Hi Andreza,
I’m Cynthia Zanoni, lead of Developer Relations @ Microsoft Latin America and I would invite you to join us at Microsoft Ignite Orlando! “
E foi assim, que no dia 25 de agosto, apenas um dia depois da maior conferência de JavaScript do mundo, que comecei meu dia. Acho que a Cynthia não tem ideia, mas eu chorei copiosamente por dias até ter coragem de mostrar o email para alguém. Simplesmente porque não acreditava que seria possível ou que era pra mim mesmo. Fiquei em choque! Logo eu, que nem passaporte tinha!
Assim comecei minha jornada junto ao Microsoft Ignite de Orlando. Sim, de Orlando, porque eu havia estado na edição paulista em 2018. Fui sozinha, sem muito alarde, porque era um grande evento aberto para todos...e gratuito! Me impressionei com o tamanho e o nível de organização do evento. Isso que, a essa altura, já havia ido ao escritório da Microsoft Brasil outras vezes participar de eventos junto ao BAM - Blacks at Microsoft, convidada pela então líder Camila Ramos.
Minha preparação para o Microsoft Ignite Orlando foi uma novela! Eu tinha muitos medos, muitas dúvidas, não tinha passaporte, tinha medo de não conseguir o visto...mas o convite contemplava passagem e hospedagem. Ou seja, bastava que eu fosse! A Cynthia me deu todo suporte necessário, aguentou cada pergunta boba devido a minha inexperiência internacional...se não fosse esse encorajamento possivelmente eu teria desistido.
Comecei os preparativos, consegui o visto e finalmente entendi que realmente estava indo. Que era verdade. Quando comecei a receber os emails de invite das reuniões, para que eu fizesse uma agenda prévia, para escolher as atividades que queria fazer e tudo que me esperava no evento fiquei muito nervosa. A cobrança pessoal era muito grande, pois fui a única mulher brasileira convidada para esse evento. Estava representando toda a comunidade e claro, a BrazilJS. Não podia falhar!
Mas e o inglês? Barreira clara, num país em que somente 2% da população é fluente num segundo idioma e eu fazendo parte da estatśtica? Eu estudei inglês por um bom tempo para me comunicar com os palestrantes da BrazilJS Conf, mas o estresse foi tão grande que travei e não consegui me comunicar. Bom...agora estava indo para os Estados Unidos. Não tinha jeito, teria que exercitar.
Cheguei a Orlando! Cynthia e Gláucia me buscaram no aeroporto e me ambientaram. A essa altura, eu já havia feito meu check in nervosíssima e impressionada. O evento é tão gigante que eles tinham estandes no aeroporto!
No dia seguinte à chegada, o time mais incrível de mulheres me levou para uma jornada inesquecível de ambientação pela cidade, preparando tudo o que estava por vir. Imagina passar um dia com Loiane Groner, Glaucia Lemos e Cynthia Zanoni na Disney...essa é uma outra história que conto depois.
Primeiro dia de Microsoft Ignite Orlando, como uma das líderes de comunidade convidadas, tinha passe especial para assistir ao keynote de ninguém mais ninguém menos do que Satya Nadella. Se ler e acompanhar pelas redes sociais já é inspirador, imagine vê-lo pessoalmente falando, da segunda fila! É impressionante. Ficou muito claro pra mim o reposicionamento da Microsoft como uma companhia mais próxima das pessoas...é um verdadeiro líder mesmo.
Foi incrível saber em primeira mão sobre as novidades da empresa, as que impactam o mercado que atuo. Embora eu não atue diretamente na área técnica, todo meu trabalho é baseado na indústria de desenvolvimento de software. Preciso estar constantemente atualizada sobre as melhores práticas e avanços tecnológicos das BigTechs.
Chegando ao “Language Lounge” , fui apresentada aos profissionais incríveis que atuam diretamente nos produtos sobre os quais eu tanto falava na BrazilJS: VScode, Typescript, Azure...a essa altura já havia conhecido o time Cloud Advocacy que me recebeu maravilhosamente bem! Eu, com muito medo da falta da fluência em inglês, imaginei que não conseguiria interagir. Sobre isso cabe um parêntese muito importante:
TODO time Microsoft com o qual interagi no evento foi extremamente empático com esse fato. Foram compreensivos e fizeram o possível para que eu me sentisse pertencente, incluída e livre para tentar me comunicar em inglês ainda que com muitos erros. Tiveram paciência e generosidade, mostrando que o trabalho com comunidades e diversidade é sério! Essa atitude foi determinante para que eu pudesse vivenciar a experiência sem medo, que tivesse coragem de abordar os profissionais e tirar dúvidas sobre como a Microsoft poderia apoiar as comunidades sub representadas em tecnologia.
Vocês imaginam o que é estar de frente a Scott Hanselman e John Papa sem falar inglês? Ambos foram incríveis demais e não é por acaso que são tão admirados pela comunidade.
Sobre o inglês, deixei claro que não se tratava de apenas traduzir as falas ou conteúdo, para isso temos os aplicativos. Mas de ter e criar ambientes em que qualquer pessoa possa se sentir acolhida. E foi exatamente esse o meu sentimento durante o Microsoft Ignite Orlando.
Participei de muitas atividades e assisti várias palestras maravilhosas. Havia uma trilha inteira dedicada a Diversidade, o Humans of IT. Não poderia querer mais nada! Você pode ver um pouco do que foi realizado pela "The Microsoft Humans of IT Community" aqui: https://youtu.be/9ZOov2xLCLM
Participei de uma sessão AMA com o Scott, fiz um workshop de construção de comunidades diversas, ouvi a incrível história da Harben Girma, a advogada cega que transformou a jornada de diversidade da Universidade de Harvard...a essa altura eu só poderia agradecer cada minuto por poder estar vivenciando esses momentos incríveis.
Como parte da minha jornada no evento, gravei um podcast com a Cynthia sobre o cenário das comunidades brasileiras sub representadas em tecnologia. Foi um bate papo muito bom, em que pudemos falar sobre o que estava acontecendo até então, como podíamos ajudar, melhorar e dar mais visibilidade ao incrível trabalho de uma galera que trabalha muito. Esse ep está em português e vocês podem conferir aqui: braziljs.org
Acredito que muita gente não saiba ou ainda não tenha explorado adequadamente todos os recursos gratuitos de aprendizagem de tecnologia que a Microsoft tem, focado em Azure. Fui atrás das informações para compartilhar com a comunidade e, quem sabe, ajudar a inserir mais pessoas em tecnologia. Fui apresentada ao Microsoft Learn, uma plataforma completa de estudos gratuitos , em que é possível estudar vários níveis até chegar a Certificação Microsoft: https://docs.microsoft.com/pt-br/learn/
Após uma semana inteira de muita interação, tecnologia e diversidade, chegou a hora da despedida: uma recepção sensacional no Universal Studios, da Disney. Tudo preparado para os participantes do evento, com muito carinho e cuidado. Foi sem dúvida uma jornada transformadora na minha vida e carreira e eu quero muito que outras pessoas possam viver essa experiência. Quero me envolver mais profundamente com os programas de relacionamento da Microsoft para ajudar outras pessoas nessa jornada.
Hoje, posso afirmar com tranquilidade que o Microsoft Ignite Orlando mudou minha trajetória pessoal e profissional, num impacto que ainda não consigo mensurar. Certamente é um evento que está no meu calendário anual, seja em qualquer lugar do mundo.
Todo meu agradecimento ao time Cloud Advocate, especialmente Cynthia Zanoni e Gláucia Lemos pelo convite, generosidade, recepção, acolhida e incentivo. Para mim é motivo de grande orgulho ver mulheres brasileiras liderando essas iniciativas em uma das maiores empresas do mundo. Isso é Comunidade, de verdade!
Até breve!
Andreza Rocha
Community & Diversity Manager
BrazilJS